Solenidade de todos os Santos
- Pascom Lobato
- 5 de nov. de 2018
- 3 min de leitura

“ALEGRAI-VOS E EXULTAI, PORQUE SERÁ GRANDE A VOSSA RECOMPENSA NOS CÉUS”.
O Calendário litúrgico no Brasil celebra no domingo após o dia 1 de novembro a Solenidade de todos os santos. O evangelho proposto para essa liturgia é retirado de Mt 5,1-12; essa perícope é conhecida como o sermão da montanha no qual Jesus trata das Bem-aventuranças.
Uma particularidade do evangelho de São Mateus está na importância que o escritor confere aos “ditos” de Jesus. No primeiro evangelho aparecem cinco longos discursos nos quais Mateus reúne ditos e ensinamentos proferidos por Jesus em diversos momentos. O primeiro desses ditos é o evangelho que lemos na solenidade de todos os santos.
Esse discurso, como dito acima, é chamado de sermão da montanha porque Jesus o faz em um monte. Essa indicação geográfica dada por Mateus carrega consigo um significado. No evangelho de Mateus Jesus é apontado como um novo Moisés, por isso esses dois personagens são colocados em simetria. No monte Sinai Deus Se revelou e deu ao seu Povo a antiga Lei. Agora Jesus, numa montanha, oferece ao novo Povo de Deus a nova Lei que deve guiar todos os que estão interessados em aderir ao “Reino”.
A primeira bem-aventurança é para os humildes, ou seja, para aqueles que se apresentam com as mãos vazias diante de Deus e não possuem atitudes orgulhosas de autossuficiência, reconhecendo seus limites. Mateus fala literalmente de pobres em espírito. Trata-se de uma expressão que significa exatamente humildade. Refere-se a quem se inclina diante do Senhor. Deles é o Reino dos céus, isto é, entrarão no mundo dos ressuscitados para a vida.
A segunda bem-aventurança diz respeito àqueles que estão na aflição. São aqueles que sofrem os contragolpes de um mundo que está ainda sob a ação das forças do mal e da morte. Sua consolação prometida consiste na salvação final, particularmente no seu aspecto de participação jubilosa.
A terceira bem-aventurança faz referência ao salmo 37: “Os mansos possuirão a terra”. Os mansos são aqueles que constroem relações baseando-se na não-violência. Diante dos outros, apresentam-se desarmados, privados de qualquer couraça e defesa.
A quarta bem-aventurança fala dos que tem fome e sede de justiça. Essa afirmação faz referência àqueles que concretamente tendem a fazer aquilo que o Pai quer. A promessa para o futuro fala literalmente de saciedade: serão cumulados de felicidade escatológica (no fim último que é a vida eterna).
A bem-aventurança seguinte é centrada no tema da misericórdia. Essa frase deve ser entendida não como um sentimento de misericórdia, mas como uma operatividade concreta, gestos de perdão e de ajuda prestada aos necessitados (25,35-37). Uma perfeita correspondência com o presente caracteriza a promessa do futuro: Deus, no juízo final, se mostrará misericordioso para com aqueles que viveram um amor misericordioso.
A sexta bem-aventurança diz que os “puros de coração verão a Deus”. A linguagem dessa bem-aventurança tem ressonâncias cultuais. Em Israel, para se aproximar do templo e apresentar-se a Deus, era necessário passar por uma pureza ritual. Porém o entendimento de Jesus diz respeito aos que têm o coração puro, isto é, são puros no profundo do ser, para além da fachada externa. Entrarão no Reino e serão admitidos na comunhão com Deus.
Na sétima bem-aventurança Jesus se congratula com aqueles que estabelecem a paz. Estão em jogo todos aqueles que trabalham pela concórdia entre os homens, edificam a paz entre as pessoas, os grupos sociais, os povos, e realizam gestos de reconciliação humana, costurando fios partidos e consolidando os laços afrouxados.
A última bem-aventurança refere-se diretamente aos discípulos, é expressa em segunda pessoa, contém um convite explícito à alegria, a perspectiva do futuro consiste em uma larga recompensa celeste. o evangelista dirige-se, em jeito de exortação, aos membros da sua comunidade que têm a experiência de ser perseguidos por causa de Jesus e convida-os a resistir ao sofrimento e à adversidade. Esta última exortação é, na prática, uma aplicação concreta da oitava “bem-aventurança”.
De modo geral podemos dizer que as bem-aventuranças deixam uma mensagem de esperança e alento às pessoas simples e humildes. Anunciam que Deus os ama e que está ao lado deles; confirmam que a alegria está para chegar e que a sua situação vai mudar; asseguram que eles vivem já na dinâmica desse “Reino” onde vão encontrar a felicidade e a vida plena.
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