24º Domingo do Tempo Comum
- Pascom Lobato
- 17 de set. de 2018
- 3 min de leitura

“QUE ADIANTA ALGUÉM DIZER QUE TEM FÉ, QUANDO NÃO A PÕE EM PRÁTICA? A FÉ SERIA ENTÃO CAPAZ DE SALVÁ-LO? IMAGINAI QUE UM IRMÃO OU UMA IRMÃ NÃO TÊM O QUE VESTIR E QUE LHES FALTA A COMIDA DE CADA DIA; SE ENTÃO ALGUÉM DE VÓS LHES DISSER: “IDE EM PAZ, AQUECEI-VOS”, E: “COMEI À VONTADE”, SEM LHES DAR O NECESSÁRIO PARA O CORPO, QUE ADIANTARÁ ISSO? ASSIM TAMBÉM A FÉ: SE NÃO SE TRADUZ EM OBRAS, POR SI SÓ ESTÁ MORTA. EM COMPENSAÇÃO, ALGUÉM PODERÁ DIZER: “TU TENS A FÉ E EU TENHO A PRÁTICA!” TU, MOSTRA-ME A TUA FÉ SEM AS OBRAS, QUE EU TE MOSTRAREI A MINHA FÉ PELAS OBRAS!”
(TG 2,14-18)
A liturgia de hoje sublinha a exigência de “não virar o rosto” pro outro lado. Isaias diz: “não escondi a minha cara, não fiquei olhando pro outro lado”. No evangelho, Pedro leva Jesus à parte para desviá-lo daquele caminho que vai levá-lo à paixão e cruz (a ponto de Jesus chamá-lo de satanás ). O que por outras palavras Pedro queria dizer? “Olha pro outro lado! Não vá nessa direção ”. O senhor pirou de vez?!
São Tiago, na 2ª leitura, começa da vontade de olhar no rosto a miséria dos outros… de não virar o rosto pro outro lado. Ser fiel à própria vocação significa não esconder o rosto, não olhar noutra direção ignorando a realidade. O amor se exprime pela coragem de olhar o outro no rosto, olhar nos olhos e fazer o que tem que ser feito.
Na 1ª leitura Isaias diz: “O senhor abriu-me os ouvidos.” Isaías é alguém que primeiro escuta e depois fala. Ele é um discípulo, um aluno que vai sempre à escola e não um professor, mestre, já diplomado em tudo. E nos mostra que cada dia é preciso que estejamos à escuta da Palavra de Deus.
São Tiago coloca em evidência a dissociação mais frequente entre fé e obras. A fé tem que ser expressa em obras. A fé leva ao fazer e não só ao dizer. Não é possível ser praticante da doutrina e não ser praticante do amor.
O exemplo que São Tiago apresenta é muito real.”Se um irmão tiver em necessidade…e não lhe das o necessário de que adianta?” quer dizer: caridade não é questão de falar mas de dar.
Mas atenção! Diante do próximo que está em necessidade, a caridade será fecharmos a boca e abrirmos os ouvidos e as mãos. Muitas vezes despejamos sobre os pobres um rio de palavras, antes, durante e depois de os encontrar, esquecendo-nos de dar.
Ou quando damos o fazemos acompanhando de algum “sermãozinho-moralista”. Ou nem permitimos ao outro que ele faça seu pedido. Julgamos que já sabemos de que o outro tem necessidade… e fazemos a eles sermões,conselhos, admoestações e reprovações.
Lembrei-me do episódio de um seriado na TV italiana: em frente à sede de uma obra social, duas elegantes senhoras saíram para pegar seu carro no estacionamento quando aparece um mulher de rua com o olho inchado, muito roxo. Antes mesmo que ela abrisse a boca, essas senhoras começaram a despejar sobre ela um discurso moralizante: “Você deveria se envergonhar da vida que leva na rua. Você sabe que poderia ganhar a vida sem perder a dignidade”. E ela coitada tentando dizer alguma palavra e explicar o motivo pelo qual estava ali na sede da obra social da paróquia. Mas as duas “especialistas em palavras boas ” continuavam a despejar sobre a mulher de rua seu sermão!
Finalmente, ela conseguiu dizer: ”escutem-me,um momento,se as senhoras conseguirem. Entrei aqui só pra pedir uma pedrinha de gelo para colocar no meu olho roxo, vocês têm ou não?
-Aqui não temos gelo, mas queremos ainda dar-lhe um conselho para se livrar dessa vida –Me desculpem, quando eu tiver necessidade de sermão saberei a quem procurar. Nesse momento me bastaria somente uma pedra de gelo. Visto que vocês não têm, é melhor que eu não perca mais tempo e pare de lhes perturbar.
É isso aí: a fé é morta sem as obras (uma morta que frequentemente só fala). E a caridade morre no mesmo instante em que se pretende substituir as obras pelas palavras.
Terminando, se tivermos a coragem de não desviar o rosto pro outro lado, teremos a consciência de que:
1-A fé é fácil ser proclamada no Credo mas difícil de se estar à escuta de Deus e do pobre;
2-A fé é fácil de falar, mas difícil de demonstrá-la de modo certo;
3-A caridade é fácil de ser expressa com as palavras mas difícil de ser traduzida em ações;
4-Deus é fácil de ser explicado mas o difícil é de aceitá-lO tomando a cruz de cada dia, não virando o rosto pro outro lado, desviando-nos da opção preferencial pelos pobres.
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